O Noivo.
Estando de picuá cheio, e a coceira de estimação nas canelas.
Estado de graça, quase sono.
De caderneta limpa em venda, quitanda e casa de umbanda.
De nome bem-dito, selado qual seu lazão. Era partido de dar gosto, de encher baú de enxoval de qualquer florzinha da cidade.
Estátua de sal, a Noivinha arredia.
Haveria de se casar com a promessa, não com o prometido.
Destempero contido, quase acordar.
Menina enjeitosa, de anca fina. Não daria pra herdeiro homem.
Sabia-se que sempre acamada, o sangue afina, o leito esfria.
De pai dono de terreiro, de mucama e acompanhante.
O Velho.
De engenho e espiga guardava o sobrenome do pai.
Qual sua farinha, a filha era barganha antiga. Já eram quinze anos esperando a hora da menina.
De mormaço nas ventas, alerta de nunca dormir.
Da viuvez, ganhara a secura dos olhos. Agora ganharia o herdeiro que não teve, no altar.
Sabia que preto que enriquece tem que manter curta a paciência.
Padre, arroz e festa.
Caminho de casa, fazenda de porvir.
Pasto duro de engolir sem o bálsamo de paixão, de encanto que fosse.
Passaram a vida em silêncio.
E silêncio não é companhia mansa.
Arredia, intromete, salga.
E isso não é bom pra negócios de papai.
A Família.
Em décimo de século, silêncio.
A novos rebentos não brindaram, a morte do velho quase não choraram, o genro não aprendeu a trabalhar.
Gastou o pingo de saúde da Noivinha, gastou o nome do Velho, gastou a canela de tanto coçar.
O engenho parou, tamanho o desamor de Noivo. E, afinal, não havia nenhum sucessor para o Velho.
O terreiro teve de ser fechado, tamanhas as dívidas. E, afinal, não havia nenhum sucessor para o Velho.
De tudo, e do Velho, só restou o dito que se espalhou pela cidade;
‘Dente gasto que não é trocado, dói o engenho, faz farinha que desanda bolo.’
terça-feira, 18 de março de 2008
Horizonte.
Variava de lado a lado.
Desde que viúvo, alma morta, terno roto.
Moribundo, morrediço, engruvinhado.
No gordo da bica central instalou morada.
E era assim, dia a dia, de sozinho que ficou
Viúvo só sabia cantar.
Variava, de lado a lado
Desde que viúvo, de lado a lado...
Qual rastelo no labor indiferente.
Desde que viúvo, alma morta, terno roto.
Moribundo, morrediço, engruvinhado.
No gordo da bica central instalou morada.
E era assim, dia a dia, de sozinho que ficou
Viúvo só sabia cantar.
"Fiu FiuQue campina de pranto devia não vingar!Fiu FiuDesmando de vida, subida de miléguas!Fiu Fiu FiuSabido Deus do Desconsolo, abriveia!Que pé não é raiz, é folha! Tem que balançar!"
Variava, de lado a lado
Desde que viúvo, de lado a lado...
Qual rastelo no labor indiferente.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
Venham ver!
... A festa das folhas de maçã
Que farfalham com a fita na cintura de Fatinha
Que faz fita pra Botero botar-se mais feliz,
Mais moço, mais perto do viço das pernas de Fatinha
e das meninas da macieira ...
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
Partidos
A sombra tremulou qual riacho com saudade de casa.
A Santa abençoada sabia a batalha do porvir.
Da vela chorosa, aproxima-se a cor brilhosa de suor.
"Minha Santa, de boneca da Cidade,
de fita no vestido e botinha de fivela não careço.
E comida a terra dá.
Só peço Santinha, um pedido de segredo.
Um pedido de querência. De vontade.
As pernas não têm tamanho de alcançar, a mufa já foi e voltou tantas...
Os olhos, vivem aguados de vontade.
Santinha de minha providência, Santinha, oh Santinha...
Se tem algum pedacinho pra mim aí nessa casa, se tem verdade quando dizem que o Céu é dos pequenos,
"me vê o favor de salgar os dedos e os cabelos naquele riachão grande, tão grande e de nome tão pequeno!?"
A Santa abençoada sabia a batalha do porvir.
Da vela chorosa, aproxima-se a cor brilhosa de suor.
"Minha Santa, de boneca da Cidade,
de fita no vestido e botinha de fivela não careço.
E comida a terra dá.
Só peço Santinha, um pedido de segredo.
Um pedido de querência. De vontade.
As pernas não têm tamanho de alcançar, a mufa já foi e voltou tantas...
Os olhos, vivem aguados de vontade.
Santinha de minha providência, Santinha, oh Santinha...
Se tem algum pedacinho pra mim aí nessa casa, se tem verdade quando dizem que o Céu é dos pequenos,
"me vê o favor de salgar os dedos e os cabelos naquele riachão grande, tão grande e de nome tão pequeno!?"
terça-feira, 22 de janeiro de 2008
Mulher de festa comprida
Pai tinha um par de couros.
Rachados de surrar, calcanhares e couros.
Só uma cadeira tinha a forma do lombo de pai. A preferida.
Preferia amarela à branca, a cana.
Chamava de 'branca', mãe e a cana; mesmo amarela.
Pálida, de amarelo só tinha os dentes, a mãe.
Pai nem dentes tinha. De amarelo, só a espiga que roía com o filho único.
Um dia pai não balançou mais. O pau da cadeira secou. Rachou também.
Mãe largou de crochear e os dedos enferrujaram.
A mulher de festa comprida veio.
Sem brio pra levantar sobrancelha, fez poeira na soleira do pai, arrastou o tapete da mãe.
Morte farreou na casa pequena e ninguém viu a sombra virar e anoitecer.
Fartou-se do morto, engasgou de tanto bebê-lo.
Morte dançou o charme da menina que morre moça. A ruga do caixeiro que morre longe da mulher.
O franzino da mesa, aproveitou o lençol branco que lhe cobria a cara e sorriu. Um sorriso amarelo de dar dó. Era o jeito de fazer festa de pai.
Estava em casa o danado. Estava com os que gostavam de seu fumo, de seu par de couros, do esganiçado da cadela velha tanto quanto ele.
Rachados de surrar, calcanhares e couros.
Só uma cadeira tinha a forma do lombo de pai. A preferida.
Preferia amarela à branca, a cana.
Chamava de 'branca', mãe e a cana; mesmo amarela.
Pálida, de amarelo só tinha os dentes, a mãe.
Pai nem dentes tinha. De amarelo, só a espiga que roía com o filho único.
Um dia pai não balançou mais. O pau da cadeira secou. Rachou também.
Mãe largou de crochear e os dedos enferrujaram.
A mulher de festa comprida veio.
Sem brio pra levantar sobrancelha, fez poeira na soleira do pai, arrastou o tapete da mãe.
Morte farreou na casa pequena e ninguém viu a sombra virar e anoitecer.
Fartou-se do morto, engasgou de tanto bebê-lo.
Morte dançou o charme da menina que morre moça. A ruga do caixeiro que morre longe da mulher.
O franzino da mesa, aproveitou o lençol branco que lhe cobria a cara e sorriu. Um sorriso amarelo de dar dó. Era o jeito de fazer festa de pai.
Estava em casa o danado. Estava com os que gostavam de seu fumo, de seu par de couros, do esganiçado da cadela velha tanto quanto ele.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
Oração.
"Eu, que homem moço já fui, de joelhos bons de surrar, caminhei sem lampião."
Velo o sangue do vestido até amarelar.
"Confia na Providência, menino".
Quaro com água e aniz, com fé e com luz.
"Esmera o intento, menino".
Peço vento pra fazer o pano dançar no varal.
"Sabedoria não Lhe falta, menino".
Queimo brasa pra alisar o vestido.
"Leve na mão, menino".
Dobro, embrulho, papel pardo e barbante.
"Carinho que ela goste, menino".
Coragem. Ele me deu coragem. De presente embrulhada.
Para Danilo Sanches.
Velo o sangue do vestido até amarelar.
"Confia na Providência, menino".
Quaro com água e aniz, com fé e com luz.
"Esmera o intento, menino".
Peço vento pra fazer o pano dançar no varal.
"Sabedoria não Lhe falta, menino".
Queimo brasa pra alisar o vestido.
"Leve na mão, menino".
Dobro, embrulho, papel pardo e barbante.
"Carinho que ela goste, menino".
Coragem. Ele me deu coragem. De presente embrulhada.
Para Danilo Sanches.
sábado, 12 de janeiro de 2008
Tina no quintal
Simples, mamãe
Simples...
O homem da gravata fina veio comer poeira do tempo.
Homem bom, trouxe presente. Espelho pra ver o "redondinho do corpo se ajeitando na idade." Veio de terno branco empoeirado e bigode lustroso de preto. Sabia falar meu nome de um jeito que não conhecia. Pra mim, curtinho, Tonha.
Sabido, homem bom. Quis café e eu passei.
Quis broa e assei.
Quis rede, balancei.
Quis me dar meia nova, fininha...
Voz de comer jaca, macia que chamava forte quando a água do banho já estava esfriando.
Olhava baixo, mesmo quando o dia não estava de mormaço e, as pernas compridas, trançava forte quando tinha "vontades dos carinhos de menina".
"Simples, menina
Simples...
Vê tudo que lhe dei?
Gosta?
Simples...
E será teu tesouro muito maior."
Simples...
O homem da gravata fina veio comer poeira do tempo.
Homem bom, trouxe presente. Espelho pra ver o "redondinho do corpo se ajeitando na idade." Veio de terno branco empoeirado e bigode lustroso de preto. Sabia falar meu nome de um jeito que não conhecia. Pra mim, curtinho, Tonha.
Sabido, homem bom. Quis café e eu passei.
Quis broa e assei.
Quis rede, balancei.
Quis me dar meia nova, fininha...
Voz de comer jaca, macia que chamava forte quando a água do banho já estava esfriando.
Olhava baixo, mesmo quando o dia não estava de mormaço e, as pernas compridas, trançava forte quando tinha "vontades dos carinhos de menina".
"Simples, menina
Simples...
Vê tudo que lhe dei?
Gosta?
Simples...
E será teu tesouro muito maior."
sexta-feira, 11 de janeiro de 2008
O menino da Promessa
Foi pra Padim PadimCiço que botei o nome do menino.
Que era seu fiel seguidor.
Que assim vai ser então.
Que assim vai ser então.
Que ele costurou a barra da batina de Padim. Com o fio que ele fiou e a agulha que ele talhou.
Diz que o nome do menino é santo.
Que assim vai ser então.
Que assim vai ser então.
Que pra Padim ficar contente, menino aprendeu desenhar letra, contar número e botar tento na cabeça dos outros meninos. Vestiu camisa de linho, o sapato do menino eu engraxei. Viajamos tanta légua quanto poeira pra beirar o pé de Padim. Pra agradecer, o menino pôs na cabeça reza que ele mesmo escreveu.
Que assim vai ser então.
Que assim vai ser então.
Padim era alto, preto e só sorria. O menino cansado dormiu na barra da batina de Padim. E disse que seu pé era gelado e duro.
Pelo desrespeito, sova ardida levou o menino.
Que assim vai ser então.
Que assim vai ser então.
Que era seu fiel seguidor.
Que assim vai ser então.
Que assim vai ser então.
Que ele costurou a barra da batina de Padim. Com o fio que ele fiou e a agulha que ele talhou.
Diz que o nome do menino é santo.
Que assim vai ser então.
Que assim vai ser então.
Que pra Padim ficar contente, menino aprendeu desenhar letra, contar número e botar tento na cabeça dos outros meninos. Vestiu camisa de linho, o sapato do menino eu engraxei. Viajamos tanta légua quanto poeira pra beirar o pé de Padim. Pra agradecer, o menino pôs na cabeça reza que ele mesmo escreveu.
Que assim vai ser então.
Que assim vai ser então.
Padim era alto, preto e só sorria. O menino cansado dormiu na barra da batina de Padim. E disse que seu pé era gelado e duro.
Pelo desrespeito, sova ardida levou o menino.
Que assim vai ser então.
Que assim vai ser então.
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