terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Mulher de festa comprida

Pai tinha um par de couros.
Rachados de surrar, calcanhares e couros.
Só uma cadeira tinha a forma do lombo de pai. A preferida.

Preferia amarela à branca, a cana.
Chamava de 'branca', mãe e a cana; mesmo amarela.

Pálida, de amarelo só tinha os dentes, a mãe.
Pai nem dentes tinha. De amarelo, só a espiga que roía com o filho único.

Um dia pai não balançou mais. O pau da cadeira secou. Rachou também.
Mãe largou de crochear e os dedos enferrujaram.

A mulher de festa comprida veio.
Sem brio pra levantar sobrancelha, fez poeira na soleira do pai, arrastou o tapete da mãe.

Morte farreou na casa pequena e ninguém viu a sombra virar e anoitecer.
Fartou-se do morto, engasgou de tanto bebê-lo.
Morte dançou o charme da menina que morre moça. A ruga do caixeiro que morre longe da mulher.

O franzino da mesa, aproveitou o lençol branco que lhe cobria a cara e sorriu. Um sorriso amarelo de dar dó. Era o jeito de fazer festa de pai.

Estava em casa o danado. Estava com os que gostavam de seu fumo, de seu par de couros, do esganiçado da cadela velha tanto quanto ele.


5 comentários:

Anônimo disse...

Gosto do que vc escreve.
O blog tá bonito, tá com linearidade.

Que não venha festa comprida tão logo. Que venha muita vida bonita pra gente.

Anônimo disse...

eu quero um quadro desse teado lá em casa.

Anônimo disse...

Imagens.
Cheio de imagens. Bom pra ler denovo e denovo. Bom pra filma e fazer esquete.

Priscila Virginio disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Vamos postar mais? Sou uma leitora disso aqui e exigo respeito-rs. Atualiza! Atualiza!

Ps: Agora q está de féria qro um post por dia.